Após as primeiras vagas do Porto Redux e antes do workshop dedicado ao Bolhão, importa lançar algumas linhas de reflexão, acerca do que deverá ser o futuro do mercado. No que diz respeito ao desenho de arquitectura parece mais ou menos consensual a ideia de manutenção da forma geral e dos elementos compositivos, com a introdução de alguns novos dados que permitam cumprir a vasta legislação de higiene e segurança vigente. Contudo, a discussão sobre o que é considerado património (na escala do edifício, neste caso), portanto, demolível ou não, adivinha-se extensa e polémica. A proposta TCN, por exemplo, utiliza o chavão contemporâneo de encerrar o espaço e dar-lhe o conforto tecnológico dos shopping malls. Parece-me pouco interessante esta visão, na medida em que ao transpor, mais uma vez, um formato espacial que funciona bem nas áreas periféricas das cidades para o centro, cria-se mais um corpo estranho relativamente ao seu contexto, sendo o objectivo precisamente o oposto, de gerar um espaço agregador. É necessário, que de uma vez por todas, se modere esta tendência obsessiva de querer climatizar e encerrar tudo – algo que tem consequências nefastas para o nosso corpo e ritmo biológico, para não falar no desgaste ambiental.
Recuemos um pouco, então. O Mercado do Bolhão é, sem dúvida, um monumento histórico, na medida em que não só foi concebido para esse fim, como atingiu esse fim, fazendo parte da vida social e contribuindo para a construção da imagem colectiva portuense. Continuando a escavar em terrenos polémicos, vamos concentrar-nos no conceito de monumento. “Monuments are human landmarks wich men have created as symbols for their ideals, for their aims, and their actions. They are intended to outlive the period wich originates them, and constitutes a heritage for future generations. As such, they form a link between the past and the future.” [1] São, portanto, fruto de culturas e/com ideologias unificadoras, o que garante a sua vitalidade. Em períodos onde as oscilações culturais e sociais são de grande escala, numa sociedade que parece apenas sensível às variações da lei de mercado (também ele sensível…), torna-se difícil a assunção de monumentos. Parece que vivemos numa época em que só a imagem de fácil e agradável apreensão e o conforto tecnológico já referido são exigidos – num primeiro olhar, este é um raciocínio que parece espelhar bem o que se passa, mas lançando um segundo olhar sobre esta equação, verifico que uma das partes da equação está incompleta, insuficiente. Penso que é impossível a coexistência em sociedade sem que existam referências. É uma necessidade intrínseca! A parte que falha, aqui, é o papel a desempenhar quer pelo centro histórico, quer por determinados edifícios-chave. Nesta reflexão conjunta nunca poderemos cair no erro de olhar apenas para a parte; é necessário compreender as diferentes peças compositivas da/na cidade-área metropolitana-região, e o seu papel no todo. Os monumentos, tal como alguns edifícios-chave, constituirão pedras basilares na construção da estrutura urbana. Simplesmente, é imperetrível compreender cada uma das partes e o seu papel no todo, assim como as diferenças entre cada um deles, aceitá-las e promover o seu potencial de complementaridade e sinergia. O Presidente Rui Rio muito tem utilizado a palavra “âncora” de cada vez que inaugura um centro comercial. Ora nem todos os navios são iguais, nem todas as águas têm a mesma profundidade.
Para concluir, importa fazer uma última distinção, entre edifícios-chave e edifícios-ícone. O edifício-ícone é uma “chamada de atenção”, um edifício que se tenta valorizar por formas icónicas e chamativas, de fácil apreensão, que emergem normalmente junto a infraestruturas arteriais de comunicação. O edifício-chave terá que funcionar num nível muito mais enraizado, como catalisador social e urbano, percebendo o seu papel nas diferentes escalas, local e regional. “Monumental architecture will be somethnig more than strictly functional. It will have regained its lyrical value.” [2]
#Pedro Oliveira [opo]