A cobertura da Berliner Philharmoniker ardeu parcialmente. Felizmente os estragos não foram demasiado grandes num dos mais fascinantes edifício que a arquitectura moderna jamais construiu. Ainda assim, a estrutura do telhado sofreu grandes danos e ainda pairam muitas incógnitas sobre qual o âmbito necessário da intervenção a realizar. God save the Philharmonie!
Fica aqui o texto já publicado no opozine sobre uma das mais reconhecidas salas de espectáculos do mundo.
Berliner Philharmoniker
Em Berlim, para muitos arquitectos, existe um destino óbvio, a Neu National Galerie do sempre eterno Mies Van der Rohe. Mas do outro lado, entre a rua e a imensidão do Tiergarten, entre as luzes da Potsdamer Platz e o silencio situa-se a indiscreta berliner philharmoniker, que com os seus paineis dourados reflecte a indecisa luz solar berlinense. Construída pelo arquitecto alemão, Hans Sharoun no inicio dos anos 60, tinha como objectivo albergar a orquestra filarmónica de Berlim, os seus músicos e a sua música num ambiente onde a acústica seria quase perfeita. Mas a filarmonia é muito mais que isso, ensaia tudo aquilo que as outras salas não ensaiam e vai muito mais longe nas relações que constrói entre o público e a música, entre o público e o espaço e entre a música e o espaço. Nunca a arquitectura pareceu seguir tão fluidamente o seu programa como aqui.
Em Berlim, para muitos arquitectos, existe um destino óbvio, a Neu National Galerie do sempre eterno Mies Van der Rohe. Mas do outro lado, entre a rua e a imensidão do Tiergarten, entre as luzes da Potsdamer Platz e o silencio situa-se a indiscreta berliner philharmoniker, que com os seus paineis dourados reflecte a indecisa luz solar berlinense. Construída pelo arquitecto alemão, Hans Sharoun no inicio dos anos 60, tinha como objectivo albergar a orquestra filarmónica de Berlim, os seus músicos e a sua música num ambiente onde a acústica seria quase perfeita. Mas a filarmonia é muito mais que isso, ensaia tudo aquilo que as outras salas não ensaiam e vai muito mais longe nas relações que constrói entre o público e a música, entre o público e o espaço e entre a música e o espaço. Nunca a arquitectura pareceu seguir tão fluidamente o seu programa como aqui.
Na filarmonia o espectáculo não é o edifício em si, mas as pessoas. As pessoas que se movimentam entre as rampas e escadas que se cruzam, as pessoas que aguardam impacientes na bilheteira, as pessoas que passeiam entre o bar e o foyer. E em cada espaço do edifício podemos adivinhar e ver o seguinte, tudo segue contínuo e fluido desde que entramos até ao momento em que nos sentamos. O edifício transforma em espectáculo todas essas pessoas que se movem e se cruzam enquanto a orquestra afina os primeiros acordes. O edifício vazio, sem gente, não tem sentido. Morrerá numa fotografia a preto e branco.
E no grande auditório, as diversas plataformas continuam a mesma lógica, sobrepondo-se como socalcos que descem a vertente de uma montanha envolvendo o palco, o centro do pentágono que constrói a sala. Nada é estanque e a sala continua e prolonga o movimento fluido e ritmado da música, dançando com a geometria o segredo de uma música, de todas as músicas.
No fundo, a Philarmonie combina dois espaços e duas tipologias, cruza dois programas aparentemente contraditórios. Vai buscar a tipologia da assembleia grega ou do bouleuterion para criar um anfiteatro. Combina uma ideia de música com uma ideia de espaço de convívio e esse é a grande vantagem, não isola um programa, acrescenta vários, multiplica as capacidades de vivência dos espaços.
A Philarmonie não é apenas uma sala de música, é um ponto de encontro entre o homem, os outros homens e a música.
#Pedro Bismarck
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