01 setembro 2008

News - TCN pronta a assinar contrato do Bolhão desde que exista uma "cláusula de conforto" [Público]

A novela Bolhão prossegue com novos desenvolvimentos. É impressionante como é possível lançar um concurso público nestas condições. Entretando decorre a vida no mercado, perdem-se oportunidades e tempo. Aqui fica a notícia do Público:

Passou um mês, mas a posição da TramCroNe (TCN) não sofreu grandes alterações. No início de Agosto, o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Lino Ferreira, avisou a empresa à qual foi adjudicada a recuperação e exploração do Mercado do Bolhão que tinha 30 dias para assinar o contrato de concessão. Caso contrário, a câmara ameaça levantar a garantia bancária de 250 mil euros e processar a empresa. O prazo chega hoje ao fim e o responsável da TCN, Pedro Neves, reafirma: "Estamos prontos a assinar um contrato que inclua uma cláusula de conforto onde esteja definido que, caso a nossa proposta de base não possa ser executada, podemos desenvolver um projecto que respeite os princípios do desenvolvimento urbano sustentável".Trocando em miúdos: assinar contrato, sim, mas que não obrigue a cumprir a proposta inicial apresentada pela TCN. Até porque o Igespar (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) já deixou claro que não a aprovará. "Não conseguimos ter uma garantia de que aquilo que propusemos vai ser executado", admite Pedro Neves. A solução da empresa passa assim pela assinatura de um contrato "que, mesmo não tendo objecto, continua a respeitar os objectivos", diz. A saber: garantir que os interesses públicos estão assegurados e que o investidor privado tem interesse em fazer o investimento, encontrando uma solução que crie empregos, tenha preocupações sociais e seja amiga do ambiente.O que falta agora saber é se a Câmara do Porto está disposta a aceitar esta solução. O PÚBLICO tentou obter uma reacção do vereador do Urbanismo, mas Lino Ferreira encontra-se de férias e só regressa ao trabalho no início da próxima semana, informou o gabinete de comunicação da autarquia. Contudo, aquando da conferência de imprensa de 1 de Agosto, o vereador insistira na necessidade da TCN assinar o contrato e apresentar um projecto concreto. "A TCN tem de apresentar um projecto; só depois disso é que a câmara e o Igespar se vão pronunciar sobre ele", disse.Pedro Neves não confirma se esse projecto, passível de ser aprovado pelas duas entidades, já está elaborado. Mas garante que a TCN não tem qualquer intenção de desistir do mercado. "Não queremos fugir a este desafio, gostamos muito do Bolhão. Temos o que é necessário, precisamos, efectivamente, de ter uma garantia", sintetiza.O administrador-delegado da TCN acredita que a solução "pode acontecer de um momento para o outro" porque há "propostas em cima da mesa". Mas não quer falar em soluções concretas e muito menos avançar quais os aspectos da proposta inicial de que a empresa está disposta a abdicar, com o objectivo de obter a aprovação de um projecto. "Isto não é um terreno fabuloso na Foz. Estamos a discutir um edifício com pessoas lá dentro, um objecto com vida própria que tem que ter solução. Há um conjunto de princípios que devem ser respeitados e se ficamos presos aos desenhos, não vamos a lado nenhum", diz. A decisão está, de novo, do lado da autarquia. [ler artigo público]

29 agosto 2008

News - Chiado atirou decadência pela colina abaixo [Público]

Neste artigo do público online, a propósito do Chiado, histórias para o Porto ouvir. Alguns exemplos daquilo que pode ser evitado e daquilo que deve ser, também, pensado, através das palavras de João Seixas. Aqui fica uma parte:
No centro comercial, pegado ao qual foi construída uma pequena unidade hoteleira, é sobretudo a FNAC que atrai a clientela. "É um dos factores de animação do Chiado", reconhece o arquitecto, secundado pelo professor universitário João Seixas. O investigador fala dos "conteúdos cosmopolitas" que esta multinacional da cultura trouxe para a zona e da operação de reabilitação encabeçada por Siza, "coordenada pelos poderes públicos", para chegar à conclusão de que o renascimento do Chiado é um caso de sucesso. A identidade do local contribuiu para isso: "Apesar da gravidade do incêndio, o Chiado teve músculo para se manter vivo". Mas é este o Chiado que queremos? João Seixas admite riscos: "Um dos maiores é o da turistificação e da banalização". Os centros históricos demasiado virados para agradar ao turista acabam por parecer-se todos muito uns com os outros. É preciso que os governantes da cidade apoiem o comércio tradicional e de proximidade, aquele que pode fazer a diferença. "A prioridade do Chiado deve ser o usufruto dos lisboetas", frisa. Os turistas virão por acréscimo. Há quem veja neste novo Chiado um claro caso de gentrificação, com os seus velhos habitantes a serem substituídos por uma nova camada abastada de residentes e lojistas. "Num espaço com estas características é inevitável", observa João Seixas. "Não vejo mal nenhum nisso". Vinte anos depois das chamas, Siza vai agora completar a reconstrução, ligando um pátio das traseiras da Rua do Carmo ao Convento do Carmo. O elevador do metropolitano para a Rua Ivens também será uma realidade, assegura o arquitecto. "A renovação de toda a zona em seu redor vai conferir ao Chiado o seu papel de zona central, nuclear da cidade". João Seixas também acredita no futuro: "A Baixa é uma Bela Adormecida à espera de que um beijo a desperte".

23 agosto 2008

News - Nova Praça de Lisboa ainda não passou da aprovação do estudo prévio pelo Igespar [Público]



Em Fevereiro, a Câmara do Porto acreditava que 18 meses bastariam para inaugurar o novo espaço, mas ainda nem foi assinado o contrato de cedência de superfície à UrbaClérigos
O projecto foi anunciado na Câmara do Porto, em Fevereiro, com a indicação que a nova Praça de Lisboa estaria pronta a ser inaugurada dali a 18 meses. Contudo, seis meses depois, o Igespar (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) apenas aprovou o estudo prévio que o arquitecto Pedro Balonas desenhou para a UrbaClérigos - Investimentos Imobiliários, SA. E o contrato de cedência do direito de superfície entre a autarquia e o consórcio da Bragaparques e John Neild Associados ainda não foi assinado.
"Está tudo um pouco atrasado, mas as considerações do Igespar demoram sempre um bocado a chegar", admite o arquitecto Pedro Balonas. De acordo com José Santa Clara, da Bragaparques, o parecer favorável do Igespar chegou à empresa a 4 de Agosto, apenas com algumas "alterações e pormenorizações".
O desenho de Balonas, divulgado em Fevereiro, mostrava uma estrutura em betão e vidro, com uma cobertura ondulante, adequada à prática de skate. Numa cota mais alta ficaria um restaurante e, no interior da praça, o Pólo Zero da Federação Académica do Porto, além de uma área comercial com a livraria Byblos (à partida) como loja-âncora. Na altura, Santa Clara já contava com algumas exigências do Igespar, sobretudo na fachada voltada para a Torre dos Clérigos, o que se confirmou. "Tivemos que introduzir alguma compatibilização com a envolvente, sobretudo na fachada do lado dos Clérigos, que ficou mais sóbria, mais contida", diz Pedro Balonas, acrescentando que a proposta inicial "não sofreu grandes alterações".Ainda assim, o restaurante foi obrigado a passar para uma cota menos elevada e a cobertura ondulante foi suavizada. As escadas de acesso também sofreram pequenos ajustes. Com o estudo prévio aprovado, o gabinete de Balonas está já a trabalhar no projecto de licenciamento que terá de receber nova aprovação do Igespar e da Câmara do Porto. A apresentação a estas duas entidades deverá ocorrer "durante o próximo mês de Outubro", estima Santa Clara.
O responsável da Bragaparques não fala em atraso no desenrolar do processo, porque, no seu entender, os 18 meses considerados necessários à sua conclusão (seis para desenvolver projectos e 12 de obra) só começam a contar após a assinatura do contrato de cedência do direito de superfície da Câmara do Porto à UrbaClérigos. "O que ainda não aconteceu", disse.De acordo com Santa Clara, o contrato ainda não foi assinado porque a autarquia está "a finalizar o processo de passagem do imóvel existente a propriedade horizontal". Uma informação que não foi possível confirmar junto da Câmara do Porto. A proposta do consórcio liderado pela Bragaparques foi a única a apresentar-se ao concurso público aberto pela Câmara do Porto em Dezembro de 2006. O executivo chegou a recusar a proposta, porque a empresa apenas queria pagar cem euros de renda mensal, mas depois de várias negociações, a cedência por 50 anos foi acordada. Mesmo que tudo corra agora sobre rodas, a Praça de Lisboa já não deverá ser inaugurada antes do fim de 2009 - e nunca em meados do próximo ano, conforme fora anunciado em Fevereiro. Tal significa que adiada ficará também a chegada ao Porto da maior livraria do país, a Byblos, cuja instalação está prevista para a Praça de Lisboa. O espaço, criado por Américo Areal, deverá contar com mais de 150 mil títulos e ocupar a fatia de leão da área comercial da Praça de Lisboa.

22 agosto 2008

Porto Redux Releases 001*

Redux: alguns avisos politicamente (in)correctos*
Nuno Portas

1. (Re)habitar é um dos componentes da revitalizar partes de uma cidade que já foi única e agora é múltipla, como são o Porto ou Lisboa. Mas não nos iludamos: já não será para as mesmas classes de pessoas que lá foram ficando nem para as mesmas classes de pessoas que foram procurando outros lugares no espaço metropolitano – por razões de custos, de modo e de modos de vida, de proximidades, de ambiente.
Os futuros habitantes das áreas centrais se se mantêm as tendências de outras nacionalidades, serão outra gente, city-user’s como agora lhe chamam: mais novos, mais solventes, mais em trânsito ou temporários, talvez mais pedestres, mas também outros, como os imigrantes dependentes de empregos de serviços que ocupam os nichos residuais não reabilitados. Programas rígidos morosos e caros como o do Barredo (anos 70) não se tem repetido – nem em Bolonha!

2. Os outros componentes de revitalisar uma área central não têm tanto que ver com o habitat mas com o trabalho, com os serviços, os consumos, os ócios (restauração incluída) e, cada vez mais, a hotelaria e as residências especiais ou de função. Estes, tem sido na “Europa das cidades”, os motores da revitalização económica e da reabilitação dos imóveis. O que parece óbvio, como solução - e falo das cidades maiores – não o é tanto na prática, devendo ter-se em conta que esta revolução funcional entra em conflito com os designios políticos de manter a função habitacional tradicional, com os desígnios ambientais de evitar o transporte individual e, ainda, com os designios de coexistência entre os comércios e escritórios tradicionais e os novos que dão prestígio e pagam o m2 de centralidade. Com o critério do “não se pode ter tudo” ou “não se devem pôr todos os ovos no mesmo cesto”, as soluções mais conseguidas são as de compatibilização de interesses apriori inimigos. O caso do Chiado (que não é o da Baixa) é um exemplo interessante dos compromissos satisfatórios e dos que ainda faltam. Aliás, depois do Metro lá chegar, as perspectivas melhoraram.

3. Deixei para trás um aspecto mais polémico – o cultural – ou seja, o de se manterem ou alterarem mais ou menos profundamente, o que se poderia chamar a “imagem” herdada de uma área urbana, sobretudo quando reconhecida como caracteristica de uma época. Já sabemos que não é resposta a este problema que se arrasta à quase um século entre contextualistas e renovadores. E falo já da imagem arquitectónica, lida nos edifícios singulares ou nos conjuntos e não da imagem urbana que pode sobreviver às sucessivas e variadas culturas artísticas como verdadeiro palimpsesto que manterá e qualifica no essencial o sistema estruturante do espaço público. Enquanto a edificação se renova obedecendo aos cadastros de regras de implantação aceites como suficientemente consensuais. Estas regras dependem obviamente das características de cada área urbana em transformação – desde as mais unitárias e emblemáticas (a Baixa de Lisboa, o miolo intra-muros de Guimarães ou Évora), às mais ecléticas e que ofereçam maiores graus de liberdade (as avenidas novas de várias cidades burguesas). O “bom senso e bom gosto”, como diziam os homens cultos de oitocentos...

4. A polémica do Bolhão (como do Parque Meyer na Capital), teria uma saída suficientemente consensual se não fosse a trapalhada administrativa arranjada pelo municipio ou pela SRU por razões conjecturais, de quem não percebeu a tempo como devia conduzir o processo – desde os antecendentes (que eram respeitáveis) aos consequentes que se revelaram irresponsáveis. E a prova está na evidente dificuldade presente em reconduzir a termos sensatos ou aceitáveis um processo de concurso pelos vistos sem as regras necessárias e suficientes para orientar ou balizar o negócio legítimos dos concorrentes. Não está em discussão, neste momento, a decisão de alienar o Mercado, nem sequer a exigência de intocabilidade da sua construção. Há exemplos já citados na discussão pública – como o de Convent Garden em Londres ou de St.Germain em Paris – que podiam ter ajudado a definir essas regras. Para já não falar da proposta a concurso anteriormente escolhida que mesmo sem ser imposta na sua integridade (já que correspondia a outro processo) teria indicado as limitações arquitectónicas e não só: também as dotações de estacionamento ou dos tipos de alojamento aceitáveis (certamente de tipo hoteleiro) e de mix comercial (para proteger interesses locais ou tradicionais). E agora?
A verdade é que o caso Bolhão teve antecedentes no afã de decidir sem medir as consequências – ou de se querer mostrar que tudo o que se fez antes estava errado...E afinal, neste como noutros casos conhecidos, estava-se no caminho certo e podia-se ter evitado o pior.

5. O caso Bolhão – para além da questão, nada secundária, como disse atrás, de ser renovado mantendo a memória da pedra e do ferro da escola do arquitecto Marques da Silva (que não foi um arquitecto qualquer) – não deixa de levantar uma questão, mais geral, de governância urbana e de conformação arquitectónica.
É a questão da escolha dos programas para certos lugares ou edifícios singulares que se bem doseados podem detonar ou ancorar as reabilitações generalizadas no seu entorno (efeitos colaterais ou de catálise como também se diz).
Estes programas são sujeitos a duas tentações extremas: a da continuidade temática a acompanhar o mimetismo físico ou, no outro extremo, a da mudança radical de programa, em geral por razões financeiras, que já são lugares comuns, e que transformam o existente numa espécie de caricatura, deixando alguns elementos do antigo como alibis envergonhados da mudança. Entre estes dois extremos, o conservador e o novo-rico-fantasista, há felizmente diversas composições de funções e linguagens dos espaços que podem trazer novidade à área consolidada mas decadente à sua volta. Inovação temática que carece de imaginação na alternativa a programas convencionais, serão esgotados, que resultaram noutras situações urbanas e podem falhar nas áreas centrais em perda e pedra. Pré-reformadores imaginativos precisam-se! Do mesmo modo, a ingénua solução de fingir que se conserva a memória do lugar tornando-a “décor” alusivo pode nem ter o efeito de renovação e atraiçoar o de conservação. Arquitectos transfiguradores (com bom senso) precisam-se igualmente!

6. Isto dito, em termos genéricos, não queria terminar sem voltar ao lugar do Bolhão. Toda a opinião, sem experimentar hipóteses mais concretas é sempre um risco, sobretudo, quando os problemas obrigam a repensar e avaliar, ao mesmo tempo, programa(s) e configuração(ões). À partida, quere-me parecer que a compacidade e regularidade do conjunto de ruas e quarteirões e a singularidade do edifício-quarteirão que é o mercado não deixaria muitas dúvidas de que não é um lugar para invenções descontextualizadas, incluindo a substituição da coerência e unidade da fachada pétrea que encerra e abre para as ruas. O exercício que me proporia seria o de repensar o novo programa dessa parede para o interior e, ao mesmo tempo, do interior para fora. Assim, e ao contrário, do que se faz habitualmente num centro comercial solitário, neste caso o programa não pode ser um dado padronizado, mas uma resultante nova do que essa dialéctica “interior/exterior” e “pré-existente/modificação” nos imporia. E mais não digo.

*Nuno Portas [Arquitecto e Urbanista]

*Este texto foi escrito pelo arquitecto Nuno Portas no âmbito da segunda sessão do seminário Porto Redux. Agradecemos, desta forma, a disponibilidade e o interesse demonstrado pelo autor.
**Sessão realizada no dia 24 de Abril de 2008, no Espaço Oficina da Galeria Fernando Santos, sobre o tema: Cidades: emergências + permanências. Contou com a presença de: Rui Losa [Arquitecto - SRU], Rio Fernandes [Géografo - FLUP], Alexandra Gesta [Arquitecta - Guimarães], Rui Moreira [Economista - Associação Comercial Porto];Moderador: Nuno Grande [Arquitecto - FAUP]


Porto Redux Releases [Agosto 2008]
Opozine + CCRE

18 agosto 2008

Porto Redux Releases - Filmes conferências



Estão disponiveis na plataforma CCRE os videos das três sessões das conferências Porto Redux realizadas em Abril no espaço oficina da Galeria Fernando Santos.
Para ver aqui:

30 julho 2008

Public Spaces/Espaços Públicos 004* - Paris


Fonte Stravinsky ou Fontaine des automates na Praça do Centre Georges Pompidou em Paris.
Ali mesmo ao lado do Centre Georges Pompidou fica um dos espaços públicos mais interessantes da cidade de Paris. Entre a estrutura tecnológica do Museu e a configuração oitocentista da típica Paris, esta fonte, com obras de Niki de Saint-Phalle e de Jean Tinguely, oferece e proporciona um momento único. Sentamo-nos ou deitamo-nos no banco que delimita a fonte e deliciamo-nos com os pequenos objectos (lábios, sereias, corações, elefantes) sempre em movimento e sempre a lançar água. Há qualquer coisa de quase naif nesses objectos que flutuam sobre a água, mas que nos obrigam a demorar lentamente por ali. Essa é, talvez, a grande virtude de um espaço público: na nossa errância permanente e distraída pela cidade, existir algo que nos detenha, que nos obrigue a demorar num lugar e sentir então que fazemos parte de uma cidade.